O pica das galáxias
Músico, graduado em Direito, poliglota e judeu convertido. Homem generoso que não poupa esforços pelo conforto da família e amigos. Criado em uma família de classe média alta, por amor a sua origem humilde e identificação político-ideologica logo cedo envolveu-se com os líderes do morro do Borel e passou a cantar sobre o cotidiano sofrido de seu povo em pérolas poéticas como Passa o pau na cara dela , Ela mama no meu ganso e Bumbum não se perde .
Com versos machistas, meias verdades e exposição de esfíncteres, MC Catra conquistou corações e mentes (vazias) do morro e do asfalto por diferentes razões. Para as fãs as músicas de Catra são a oportunidade de exibir o corpo e se esfregar em todas as virilhas peludas disponíveis, numa demonstração refinada da sensualidade brasileira. Para os sociólogos, formados nos programas da Regina Casé, Catra corporifica a criatividade do “povo” - afinal fazer versões despudoradas de canções pré-existentes é coisa que só a sagaz cabeça do brasileiro pode fazer. Para os homens, ele lembra aquele colega da oitava série,bagaceiro e sem noção, que mostra o pau pras criancinhas e aterroriza as tias velhas torpedeando palavrões a cada olhar enviesado.
O porra louca, o maluco, o vilão.
Multi-instrumentista, um dos fundadores do Brock e ateu convicto. Homem mordaz que coleciona desafetos e polêmicas. Virou ícone de uma geração com a qual não se identificava, entrou no mainstrean como integrante da Blitz mas abandonou a banda às portas do sucesso, enfileirou hits na carreira solo mas comprou briga com as gravadoras, cheirou milhas de cocaína, foi preso diversas vezes por porte de drogas e ficou na cadeia por três meses.
Na penitenciária de Bangu, dividiu a cela com os líderes do Comando Vermelho, tornando-se uma espécie de mascote da facção durante anos. Enfrentou a turba enfurecida no Rock in Rio 2 por tentar fundir rock com a bateria da Mangueira, é persona non grata entre artistas e executivos por lutar pela numeração dos discos e fez um dos melhores álbuns da "axé-zenta" década de 90. Sua trajetória inconstante, a paranóia de que Herbert Vianna o imita e o despudor em criticar colegas e denunciar os esquemas sórdidos da indústria fonográfica colocaram Lobão no rol dos artistas loucos, problemáticos, quase irremediáveis. Ignorado pelas rádios, excluído do revival oitentistasua carreira oscila entre o sucesso e o fiasco.
Antimonotonia e bundamolice
Verborrágicos e provocadores Catra e Lobão lançaram na mesma época a versão oficial de suas trajetórias: o documentário 90 dias com Catra e a autobiografia Lobão – 50 anos a mil.
Lobão não poupa afetos e inimigos, destilando em mais de 600 páginas aquilo que o brasileiro mais abomina: pensamento crítico, ateísmo, indiferença com a instituição família. Pois aqui, critica é levada para o pessoal, duvidar da existência de Deus é ofensa e admitir que o vínculo familiar não basta para amar é doença. Alheio ao clima de “deixa disso” e “não-comprometimento”, o compositor desafia a “bovinice” brasileira a cada entrevista tendo como único censor as reminiscências das doses cavalares de cocaína.
Em tempos em que pose é tudo, Catra personifica a canalhice consentida e se apresenta como o rei da boiada. Na mira da PM devido aos “proibidões” (funks que exaltam a bandidagem e incitam a violência contra policiais), o funkeiro poliu sua imagem investindo pesado na temática predileta do brasileiro: putaria.
Catra não é formado em Direito, cursou somente dois anos, mas no Brasil ser quase um doutor já dá status de pessoa “estudada” que deve ter suas opiniões respeitadas por default. Sexualmente libertário porém machista, cercado de amigos, filhos e esposas Mc Catra distribui conselhos, gargalhadas e ignorância geral entre goles de cerveja, salsichão e maconha: mulher é feliz hoje, se vivesse na Idade Média e fosse gostosa ia morrer queimada porque aqueles caras eram tudo viados, não gostavam de gostosa ou Tu precisa estudar. Teu pai estudou muito, hoje já não preciso ler pois já sei o que tá escrito.
Harmonizando a imagem de cafajeste mas bom pai; de homem simples porém culto; o resultado de 90 dias com Catra é um mosaico de meias-verdades e demonstrações patéticas de pseudo-inteligência.Catra ganha louros e respeito por ser um retrato do brasileiro médio: bundamole, cafajeste, hipócrita, irresponsável, impressionável com a pose sem pensar na essência, é o pica das galáxias. Lobão, por ser polêmico, é tachado de violento, virou caricatura e tem sua personalidade diluída em meros adjetivos: porra-louca, maluco, vilão. É o veneno antimonotomia contra a bundamolice da MPB.
5 comentários:
As descrições foram simplesmente perfeitas... é uma pena que o Lobão não tenha, digamos, um "sucessor" no mainstream. Infelizmente, o mainstream já desistiu do rock há muito tempo.
Pior Vei!!
Nao lembro de nenhum "discipulo" do Lobao na questao de assumir opinioes polêmicas.
Ficam com medo de comprar briga, afastar os fãs, o mainstrean pasteurizou tudo, só deixa em evidência a burrice.
O BR precisa de mais pessoas como o Lobão, fala o que pensa, e não fica fazendo média...
Além dos outros atributos intelectuais e artísticos.
PS: Ae Mestra gostei do Blog.
Oi mamute!!!
Anos depois vim agradecer!!
valeu cara pela view!!!
Uma pena que a oligarquia contemporânea da música brasileira impeça que mais pessoas como o Lobão subam ao palanque ou apareçam.
E a internet atualmente, apesar de livre, só serve para diluir ainda mais a população ao invés de criar o espaço que os "donos e gerentes" da música brasileira não permitem.
Quer dizer, o espaço até existe por aí, mas brasileiro que é brasileiro não perde tempo com essas coisas...
Lobão teve astúcia ao pavimentar seu caminho para o público, mas os tempos não são mais os mesmos e as estradas hoje em dia são todas cheias de pedágio e "fiscalização".
Postar um comentário