26/04/2011

Julia Graciela: Mulher moderna usa Assolan

Madonnas ou Amélias, submissas ou independentes, mulher-fruta ou mulher-cesta básica; não importa o rótulo e sim o fato: lugar de mulher é na cozinha.

Não, não é falta de corporativismo da minha parte. A verdade foi revelada nos reclames do Jornal Nacional e proclamada por um velho companheiro das mulheres. Atrás de uma bancada cheia de produtos de limpeza Marisa Orth, Monica Iozzi e Dani Calabresa se revezam em xingamentos violentos e ironias toscas afirmando que mulher evoluída é quem zela e luta pelo asseio da privada, o fogão desengordurado e o extermínio dos ácaros.

Que se danem as greves nas portas das fábricas, esqueçam os debates sobre a pílula e a conquista de direitos milenarmente masculinos. Simone Beauvoir, quebrou tabus por uma só causa: a liberdade de xingar os maridos sem levar uns sopapos. Com um Bombril na mão e a Lei Maria da Penha embaixo do braço, nada irá nos deter!

É fácil imaginar a satisfação das donas-de-casa ou adeptas da dupla jornada, escondendo um sorriso no canto da boca e repetindo a si mesmas, logo após o comercial, o rosário que desfiam com as amigas: é isso mesmo, homem só serve pra aquilo e olhe lá. “Aquilo” que é tratado como elemento sacro da relação, é tema discutido, esmiuçado e responsável por zilhoes de preocupações; “aquilo” que as mulheres-bombril dizem ser bem-resolvidas enquanto na verdade mal tocaram o próprio clitóris.

Posam de femme fatale, de personagem dos clipes da Rihanna enquanto não passam de arremedos da Julia Graciela.

Sonhos desbotados
Presença constante no programa do Chacrinha, Julia Graciela tornou-se conhecida pela crônica cantada Anúncio de Jornal. Uma mini tragédia com aroma de Mon Bijou: em tempos que não havia processo por assédio sexual, a história da moça intocada que é seduzida pelo chefe, e depois de apaixonada, desvirginada e amaciada é demitida sem justa causa metia medo nas estudantes do curso de datilografia.
  Julia graciela - Anúncio de Jornal 

Autora de pérolas da submissão emotiva como Não interessa se eu sou a outra/o importante é ter você (Eu sou aquela); as canções da argentina são o supra-sumo de tudo aquilo que as mães e tias nos ensinam a ser em matéria de relacionamento: insegura, ingênua, masoquista, submissa, suplicante por raspas e restos de afeto. Defeitos que passamos a vida toda tentando consertar.

Ao longo dos anos oitenta o fatalismo e auto-piedade de ícones como Julia Graciela, Diana e Perla foi soterrado pela imagem da mulher autosuficiente, poderosa e decidida. Onde “mulherzices” que o feminismo lutou por abolir (fragilidade, dependência econômica, instabilidade emocional) só são reivindicadas quando convém;  isto é nos livramos da obrigação de lavar cuecas mas ainda exigimos que o homem mantenha seu papel de macho provedor.

Destilando a misandria  
O movimento feminista se perdeu na curva, diluiu-se em demonstrações de misandria (termo quasedesconhecido que define a aversão gratuita e radical ao gênero masculino). Perdeu o propósito na futilidade disfarçada de sexualidade voraz das personagens de Sex and the City, nos suvacos peludos de Beth Ditto e na burrice das mulheres-frutas. Pois ao reivindicar a liberação sexual e a divisão democrática do trabalho, as companheiras exageraram na dose e dividiram-se entre mulher-objeto e mulher-abjeta.

A sensualidade a flor da pele das divas pop alimentou o monstro do corpo perfeito e erotizado, construído para provocar ereções a cada passo e sempre disposto para o sexo. Auto-proclamadas independentes e modernas, nós, anônimas, cedemos a submissão ao buscarmos obstinadamente o orgasmo mais intenso, a sinfonia de assovios e os olhares mais devassos.  Tentamos ser Barbie, enquanto as amarras da normalidade, fiéis a lei da gravidade, gritam que somos representadas por Bridget Jones e Maitena. 

As abjetas exploram até as últimas conseqüências a pertinência de uma noção arcaica do consciente coletivo: mulheres são boas selvagens (tal como os índios) não importa a ordem e a dimensão de suas falhas, a culpa é e sempre será do homem – por exemplo se ela trai, foi o homem quem deixou de satisfazê-la. Para elas , a mulher é superior por ter um ventre e a negatividade estrutural e ética da humanidade emana das virilhas peludas dos machos. 

Na pretensão de representar a mulher moderna, a campanha do Bombril presta um desserviço a igualdade dos sexos. Ao imaginar que a nossa felicidade é uma liquidação de Pinhobril, Marisa e companhia destilam misandria camuflada de piadinha e concomitantemente reforçam a noção de mulher-objeto, sempre disponível e dedicada ao homem seja na cozinha ou na cama.  

Feita para amar e ser só perdão, Julia Graciela com suas doses homeopáticas de lamúrias e sofrimento é a lembrança insistente de que a busca por autonomia nao suprime o desejo feminino de ter um macho pra chamar de seu. 
  
A Popularidade de Julia Graciela aqui!
01. Anúncio De Jornal
02. Por Amor Demais
03. Amantes
04. Despedida
05. Coração Rebelde
06. Talvez Foste Tu
07. La Canción Del Te Quiero
08. Saudade De Você
09. Eu Sou Aquela
10. Sem Você Não Tenho Nada
11. Manuela Mulher
12. Amiga Do Vento
13. Desiludida
14. Escreva-Me Uma Carta




O FILME: Uma curiosidade é que "Anúncio de Jornal" virou filme com o mesmo título, rodado na boca do lixo paulistana em 1984, sob a direção de Luiz Gonzaga dos Santos, seguindo uma tendência da época de transformar em película clássicos da música popular. 

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11 comentários:

Finalmente alguém entendeu! O século XXI exige um comportamento complementar. Chega de supremacia masculina ou feminina! Temos que nos unir para alcançar a felicidade.

Espero que mais pessoas pensem como você, Tia Véia.

Pelas minhas companheiras de gênero a situação está mudando lentamente pois muitas ainda exigem demais dos seus namorados, maridos, ficantes, peguetes.
Torço e encho o saco para que isso mude, será bom para todas e só assim vamos ganhar respeito de verdade, por mérito e não por cavalheirismo, criação ou compaixão.
obrigado pelo coment!

Tia véia dise uma das poucas coisas sensatas que já ouvi, ou li, da uma mulher. Esher Vilar fala, em o seu O Homem Domado, que "a mulhern ão conhece lutas". E não conehce mesmo. As mulheres lutaram tanto para conquistar espaço masculinos, que ao chegarem em casa e fazerem uma simples comida, falam que fazem jornada dupla.´
Analisem as nossas divas femininas da TV, depois veja se elas chegaram lá por mérito pessoal e pela estória de lutas e conquista...chegaram lá pelas coxas grossas e por passarem no teste do sofá.
Como souum homem machista, gostaria de dar às mulheres a oportunidade de provarem que nós homens estamos superados. Que elas lotem os institutos de pesquiswa e criem algo que supere os zilhões de inventos masculinos, pesquisas etc. Nunca foram capazes de fazer isso?
O que, o machismo não deixava ? Vá dizer isso pra Mme. Currie, dois prêmios nobéis. Ela nasceu no século 19, por que os homens não a impediram de pensar ? Cadê o machismo ?
É preciso que a mulher PROVE que é capaz de merecer o nosso respeito, além de simplesmente o nosso tesão. E apesar de ser um cara bem machista (para mimo cara que não é machista nem sequer é homem, é um ignorante social, um estúpido), cá entre nós, quando as mulheres querem, elas tem toda capacidade para conseguir por seus próprio méritos. Então, que não fiquem abrindo as pernas na Playboy para ganhar o que uma mulher honesta e trabalhadora não ganhará em 3 anos.Mostrem que podem.

Lúcio,
Obrigado pelo elogio e pelas críticas.
De qualquer forma, acredito que preciso fazer algumas considerações.
A tônica do texto é a solidificação da igualdade entre os sexos, ou seja, por mais ácidas que minhas palavras tenham sido procurei não incorrer em inverdades históricas.
Repugno o machismo, tanto como o feminismo.

1) Mulheres não encabeçam “zilhões de inventos/pesquisas”não por falta de capacidade e sim por CARÊNCIA DE OPORTUNIDADE HISTÓRICA. Isto é, a sociedade por milênios foi essencialmente patriarcal onde mulheres eram consideradas inferiores; criadas pura e simplesmente para a procriação e trabalhos domésticos. É fenômeno recente o acesso feminino ao mercado de trabalho, educação e outros setores da sociedade. E também é fato notório que as mulheres, hoje, são maioria no ensino superior. Mostrar zilhoes de inventos/pesquisas, é somente questão de tempo.

2) O machismo existiu e existe. Não será com dois, três exemplos que se pode ignorar o fato. Mulheres foram estimuladas por milênios a serem burras e subservientes; até o século XIX para serem domésticas e no século XX para conjugar habilidades domésticas e sexuais.

3) Não há mal em ser sensual, posar pra Playboy, querer ter corpo bonito. O problema é quando o sexo torna-se o único meio de valorização da mulher. Se elas ganham dinheiro fácil,é porque tem quem pague.

4) Mulheres lutam sim. Não protagonizaram guerras, mas foram elas que mantiveram a economia dos países em guerra ao conjugar jornada doméstica e de trabalho. Cuidar da casa e dos filhos é muito mais do que fazer um prato de arroz; é estar disponível 24 horas por dia e muitas vezes não ter com quem dividir as tarefas domésticas. Lutar é mais do que demonstração de força física.

Minha critica centra-se na resposta das mulheres a essa situação: defesa da superioridade, ao invés de pregarem a igualdade de fato e de direito. Por isso a afirmação “O movimento feminista se perdeu na curva”, porque feminismo em sua essência não é a misandria, e sim a luta por direitos iguais.

Cara que não é machista, é uma benção do século XX, é prova de evolução social. É um antídoto contra a estupidez.
Espero que você tenha uma visão equivocada de machismo para afirmar com orgulho que o é.

Eu já provei, e provo diariamente que mereço o respeito dos homens muito mais do que tesão. Dê uma olhada no arquivo do blog, e encontrará outras mulheres que provaram isso muito melhor do que eu.

GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL!
Golááááço!
Caramba, bicho, a 1º vez que vi o tal comercial, nego véio e eu ficamos horrorizados. Enquanto esse joguinho de mulheres abjetas/objetos dessa estratégia burra onde homens são colocados como inimigos... tsc tsc tsc. não avançaremos como humanidade, que, ao fim e ao cabo, é isso que precisamos: sermos humanos e solidários.

Oi, "Tia Véia"! Vi link pra cá no fbook da Pomba, comecei a ler e não consegui parar... Você é boa, garota! Parabéns =)
Lohanna Machado

Lúcio Sátiro,
Você é uma misógino, e assim como todos os misóginos sitam o livro da Esher Vilar, que só diz o que vocês querem ouvir, ah, que lindo, a mulheres não tem que provar nada para seu machismo de merda, lutar? a que tipo de luta você honra, mesmo em tempos onde a mulher não tinha voz, os homens destruirão uns aos outros, a troco de quê? de poder? e a culpa foi da mulher? ah, vai se danar, é por isso que eu tenho nojo dessa raça masculina que ainda age como nos primórdios e esquecem que além de um pênis tem um cérebro, que hoje vivem de disputa barata, querendo inferiorizar as mulheres. As mulheres nunca lutarão? o que é luta pra você, é apontar uma arma? pois eu luto sim, pois estudo muito e sei que ainda não terei um salário digno pra isso, como você acha que as mulheres conseguiram o direito do voto: foi apontando uma arma? pense bem no que é uma luta pra você. Minha mãe lutou, criou dois filhos sozinha, porque um filho da puta de merda trocou ela por uma vadia e esqueceu que tinha familia, homem é um ser vazio e limitado, só quer aquilo que agrada aos seus olhos e nada mais. Cuspo na cara de qualquer um.

Anne: pois é! também fiquei com cara de WTF??? quando vi a propaganda. Muito vergonhosa, ainda bem que nao tem mais.

Lohana: Valeu pela leitura! A pomba tem ajudado muito na divulgação.

Sobre misoginia x misandria, pessoal o ideal é o caminho do meio. Sem cair em exageros e reduções que so empobrecem a relação. Creio que o Lúcio não entendeu lhufas da proposta e ficou regojizante em ver uma mulher criticando a ala feminina. O que separa alguém de conhecer ou não lutas é algo muito muito pessoal que tem muito mais a ver com histórias de vida do que gênero ou classe social.

E na hora de pagar a conta, pq naum existe direitos iguais nessa hora ?

Na hora de pagar a conta eu particularmente divido, como a maioria das minhas amigas fazem também.
Agora se vc quer uma mulher cuidando dos filhos e da casa vai precisar pagar a conta mesmo, não tem jeito!
Mas pode acontecer também da sua namorada/esposa não poder dividir igualmente a conta porque mesmo trabalhando fora de casa ganha menos que você. Mas provavelmente isso acontece porque ela teve oportunidades diferentes das suas (ela pode ter sido criada por uma familia machista que a fez acreditar que ela não tem capacidade de sustentar uma casa e quem tem a obrigação e vai fazer e isso é o homem com o qual ela casar), ou quem sabe tenha até mesmo um trabalho de mesma importância, que tenha o mesmo grau de escolaridade ou até superior e ainda assim ganhe menos pelo simples fato de ser mulher pois, pasme, isso ainda acontece sim!!

Olá meu nome é Carmen gostaria de deixar um pedido para empresa que comprou assolan que volte com produto no mercados por que é a melhor esponja lã de aço pra mim só tem qualidade não enferruja é macia não arranha os aluminío é perfeita estou sentindo falta da mesma no comércio, quero dizer que a marca Ipê não tem comparação a qualidade é inferior.Falo com conhecimento de causa.
Obrigado!

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