*resumo do artigo "A mágoa em chuteiras - o dia em que o Rio Grande vaiou o Brasil" do professor doutor em História da UFRGS Cesar Guazzelli – e meu admirável orientador, porém colorado, e especialista em História Social do Futebol.
1972. Porto Alegre. Beira-Rio, 110 mil brasileiros vaiam impiedosamente a Seleção Brasileira. Não era um ato de protesto político e sim de vingança bairrista pela ausência de gaúchos na convocação de Zagallo para a Taça Independência (comemorativa aos 150 anos da Independência, seria disputada no inverno de 1972 em vários estádios do país).
Faltava o lateral-esquerdo Everaldo, tricampeão gaucho pelo Grêmio e titular na Copa de 70 - a estrela dourada na bandeira do Grêmio representa o primeiro gaucho a vencer uma Copa – e o colorado Claudiomiro, destaque da temporada de 1971.
A imprensa gaúcha comparava a ausência de conterrâneos com a presença ostensiva de mineiros ‘’questionáveis’’ como: Dirceu Lopes e Wilson Piazza, do Cruzeiro, Dario e Vantuir, do Atlético Mineiro.
A crise trouxe à baila a ideia de um Rio Grande sempre esquecido, relegado a um segundo plano do futebol brasileiro, e que, no entanto, sempre cumprira a sua parte quando lembrado. A “afronta” ao tricampeão Everaldo ganhava foros de ofensa a todos os rio-grandenses. Num raro momento de união entre colorados e gremistas, fortalecia-se a identidade gaúcha justamente quando a ditadura tratava de moldar um Brasil de fantasia, unido, próspero e feliz, muito bem representado pela seleção. Para contornar a situação, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Rubens Hoffmeister, desafiou a seleção brasileira para uma partida contra um combinado estadual. Depois de muitas negociações, o jogo foi marcado para o dia 17 de junho de 1972.
A seleção gaúcha, ou “combinado grenal”, convocou somente jogadores da dupla e tinha Ancheta (uruguaio), Figueroa (chileno) e Oberti (argentino). Motivo de chacota da imprensa do centro, que não manja das nossas raízes platinas.
Naquele sábado o Beira-Rio recebeu o maior público de sua historia, vaias a seleção brasileira antes e durante o jogo, alguns gaúchos mais exaltados queimaram bandeiras do Brasil. O escrete canarinho estava visivelmente tenso. O placar ficou em 3 x 3 com os gaúchos sempre a frente. Até hoje dizem que o resultado foi ‘’arranjado’’.
O resultado a longo prazo foi o aumento da pecha de bairristas, truculentos e a continuidade do esquecimento dos jogadores que atuam no estado. Luis Fernando Veríssimo, à época, resumiu bem a situação: Mostramos ao Zagalo que o futebol gaúcho não pode ser desprezado? E eu respondo que não mostramos ao Zagalo nada e que o futebol gaúcho tanto pode que continua desprezado. O mal do protesto passional é que suas razões se extinguem quando termina a paixão. E todas as legítimas perguntas que se poderia fazer sobre os critérios de convocação e as contradições do Zagalo serão, de agora em diante, anticlimáticas. O clímax foi o jogo de sábado.
1972. Porto Alegre. Beira-Rio, 110 mil brasileiros vaiam impiedosamente a Seleção Brasileira. Não era um ato de protesto político e sim de vingança bairrista pela ausência de gaúchos na convocação de Zagallo para a Taça Independência (comemorativa aos 150 anos da Independência, seria disputada no inverno de 1972 em vários estádios do país).
Faltava o lateral-esquerdo Everaldo, tricampeão gaucho pelo Grêmio e titular na Copa de 70 - a estrela dourada na bandeira do Grêmio representa o primeiro gaucho a vencer uma Copa – e o colorado Claudiomiro, destaque da temporada de 1971.
A imprensa gaúcha comparava a ausência de conterrâneos com a presença ostensiva de mineiros ‘’questionáveis’’ como: Dirceu Lopes e Wilson Piazza, do Cruzeiro, Dario e Vantuir, do Atlético Mineiro.
A crise trouxe à baila a ideia de um Rio Grande sempre esquecido, relegado a um segundo plano do futebol brasileiro, e que, no entanto, sempre cumprira a sua parte quando lembrado. A “afronta” ao tricampeão Everaldo ganhava foros de ofensa a todos os rio-grandenses. Num raro momento de união entre colorados e gremistas, fortalecia-se a identidade gaúcha justamente quando a ditadura tratava de moldar um Brasil de fantasia, unido, próspero e feliz, muito bem representado pela seleção. Para contornar a situação, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Rubens Hoffmeister, desafiou a seleção brasileira para uma partida contra um combinado estadual. Depois de muitas negociações, o jogo foi marcado para o dia 17 de junho de 1972.
A seleção gaúcha, ou “combinado grenal”, convocou somente jogadores da dupla e tinha Ancheta (uruguaio), Figueroa (chileno) e Oberti (argentino). Motivo de chacota da imprensa do centro, que não manja das nossas raízes platinas.
Naquele sábado o Beira-Rio recebeu o maior público de sua historia, vaias a seleção brasileira antes e durante o jogo, alguns gaúchos mais exaltados queimaram bandeiras do Brasil. O escrete canarinho estava visivelmente tenso. O placar ficou em 3 x 3 com os gaúchos sempre a frente. Até hoje dizem que o resultado foi ‘’arranjado’’.
O resultado a longo prazo foi o aumento da pecha de bairristas, truculentos e a continuidade do esquecimento dos jogadores que atuam no estado. Luis Fernando Veríssimo, à época, resumiu bem a situação: Mostramos ao Zagalo que o futebol gaúcho não pode ser desprezado? E eu respondo que não mostramos ao Zagalo nada e que o futebol gaúcho tanto pode que continua desprezado. O mal do protesto passional é que suas razões se extinguem quando termina a paixão. E todas as legítimas perguntas que se poderia fazer sobre os critérios de convocação e as contradições do Zagalo serão, de agora em diante, anticlimáticas. O clímax foi o jogo de sábado.
curiosidade : além do espírito aguerrido, outra influência uruguaia que poucos conhecem é a presença de negros em times de futebol: já presentes em clubes populares do país vizinho, pela fronteira sulina vieram os primeiros negros a jogar em clubes brasileiros: no primeiro campeonato estadual do país, o Brasil de Pelotas foi campeão gaúcho em 1919 com jogadores negros em sua equipe, bem antes do Vasco da Gama.
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