21/12/2010

Simonal e Roth - A marca da derrota

O fracasso é solitário, estéril. Tem rosto e sobrenome. 
É lugar-comum ouvir após derrotas futebolísticas inesperadas que “futebol se decide nos detalhes”, “é uma caixinha de surpresas”, “é injusto como a vida” e outras frases feitas. Porém, pouco questionamos porque uma categoria esportiva, em meio a tantas outras,  seria capaz de imitar a dinâmica da vida. Pra mim, todas essas afirmações são verdadeiras mas perdem força quando carecem de explicação.
A diferença entre outros esportes e o futebol é que neste a vitória precisa somente de um ponto a mais INDEPENDENTE do desempenho. Um só ponto, num esporte em que pontos são escassos. Não importa se o time dominou os 90 minutos do tempo, teve mais chances ou méritos, o talento aqui sucumbe a um vacilo,  a um lance de azar. No vôlei, basquete e afins isso ocorre com menos freqüência pois prescinde de uma média de desempenho ruim ou uma pane emocional coletiva  - como Brasil x Rússia na final feminina das Olimpíadas de 2004, onde Mari perdeu três bolas do set mas até hoje é titular da Seleção.
No futebol é outra coisa, fugazmente heróis se transformam em inimigos ou vilões, rivais torcem e jogam unidos por um ‘’bem maior”, o árbitro tem poderes tirânicos e mesmo jogando bonito o que entra para a história é o placar e O Cara da derrota. Sem ressalvas ou asteriscos.Dunga, Barbosa (goleiro da seleção de 1950), Roth e Wilson Simonal, por exemplo, carregam a marca do fracasso.
Apesar de acalentar o sonho, Simonal nunca jogou profissionalmente. Sinônimo de sucesso, alegria e ostentação na música brasileira sessentista, ele enfileirava sucessos como “Meu Limão, meu limoeiro”, “Nem que não tem”, “Sá Marina”, “Vesti Azul”; detinha um dos maiores contratos de patrocínios, encantou a diva Sarah Vaughan e tinha um domínio de palco e comunicação com o público como nunca antes  na historia desse país.  

Simona acompanhou de perto a delegação brasileira na Copa de 1970 no México. Concentrava junto com a Seleção de Zagallo, tocava violão com Pelé, era goleiro nos treinamentos recreativos e tinha o  público mexicano em suas mãos, encantados com o swing e a simpatia do ‘’pilantra’’. Voltou ao Brasil com a Jules Rimet na mala, os bolsos estufados, a agenda lotada  de shows e orgias.
Bastou um só erro para alça-lo ao ostracismo: nos idos de 1971 Simonal descobriu que estava falido, acreditara que o contador lhe passou a perna e num ato de fúria e burrice contratou dois policiais conhecidos para dar um aperto no ex-funcionário. A estupidez de Simonal que seria punida com uma pena branda ganhou contornos dramáticos e resultou no exílio que durou até a sua morte em 2002: os policiais surraram o contador nos porões do DOPS.
A capa d´O Pasquim em letras garrafais acusou Simonal de dedo-duro, reiterando a desconfiança das patrulhas esquerdistas de que um crioulinho daquele, contratado pela Shell (multinacional do imperialismo), desfilando com gostosas numa Mercedes branca com estofamento vermelho, boa coisa não podia ser. O publico e os amigos sumiram, ausente no rádio e na televisão, o cantor foi silenciado em velocidade meteórica por causa de uma historia pouco esclarecida.
Marcado pelo fracasso e condenado ao ostracismo, Simonal envelheceu bradando inocência em meio a anúncios de iogurteiras em programas vespertinos decadentes. Como no futebol, as vitorias recentes sucumbiram a um deslize, e Simonal tornou-se “O Cara” da derrota, sem ressalvas ou asteriscos.

Obs: No boletim de ocorrência o contador alegara que o cantor gastava mais do que seus lucros cobriam; em 1994 Simonal conseguiu declaração da Presidência da República de que seu nome não consta nos arquivos do DOPS como informante.

Obs 2: reza a lenda que Celso Roth está em falta com o Exu Caminaloá  - especializados em provocar doenças mentais, até mesmo a loucura. Vingativo, o Exu encarnou no mundo terreno sob o nome de Kaluyituka e comandou uma poderosa equipe de espíritos com a forma de Pretos, ornados de penas na cabeça e na cintura com argolas nos lábios, nas orelhas e nos braços, mais conhecida como Todo Poderoso Mazembe.

Wilson Simonal - México 70
01 - Aqui É o Pais do Futebol (Milton Nascimento / Fernando Brant)
02 - Raindrops Keep Fallin' On My Head (Burt Bacharach / H. David)
03 - Kiki (Nonato Buzar / Wilson Simonal)
04 - Ave Maria no Morro (Herivelto Martins)
05 - I'll Never Fall In Love Again (Burt Bacharach / H. David)
06 - Crioula (Jorge Ben "Jorge Benjor")
07 - Que Pena (Jorge Ben "Jorge Benjor")
08 - Aquarius / Let The Sunshine In (J. Rado / G. Ragni / G. MacDermot)
09 - Garota de Ipanema (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
10 - Ecce Il Tipo Che Io Cercava (Sergio Endrigo)
11 - As Menininhas do Leblon (S. C.)
12 - Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda (Lamartine Babo / Francisco Matoso)


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