03/01/2011

A construção do homem gentil, gentil até demais

A psicóloga norte-americana Joyce Brothers ao analisar um fenômeno da cultura pop sentenciou:
- Eles adotam certos maneirismos que beiram os limites do feminino (...) E são exatamente esses maneirismos que parecem atrair mais a sua legião de fãs femininas mais jovens, na idade entre os 10 e 14 anos. E isso porque, logo no início da adolescência, a menina acha mais atraente as características delicadas e femininas do que as atitudes másculas. A explicação parece ser o fato de que esses jovens projetos de mulher ainda se aterrorizam com a idéia de sexo. Então sentem-se mais seguras amando figuras não muito definidas, não claramente masculinas.
Seria Justin Bieber? Jonas Brothers? Luan Santana?!! Não, não e não. O ano é 1965, e os afeminados da época eram os Beatles e as inúmeras bandas/cantores do estilo que pipocaram pelo mundo.
A paixão das pré-adolescentes por ídolos que flertam com a feminilidade ou com a infantilidade, evidentes no modo de se vestir e se comportar é um fenômeno crescente, porém antigo.E não está restrito as paredes do quarto, nos casais pré-adolescentes a diferença visual é gritante: o guri mais pegador é aquele das bermudas largas, camisetas gritantes, tênis à smurf´s e gestos espalhafatosos. Por mais que os jovens façam filhos e sexo, as gurias pré-adolescentes têm medo de macho sim.
Em uma revisão rápida das ultimas quatro décadas da cultura pop, o ideal de beleza masculino foi perdendo pêlos no rosto e no corpo, afinando o queixo, amaciando a fala e incorporando preocupações essencialmente femininas como encontrar um grande amor ou começar uma família.
Símbolos sexuais com cara e pinta de homem como Sean Conery e Paul Newman é démodê, George Clooney e Daniel Craig não têm vez na capa da Capricho e ver 007 esbofeteando uma mulher em crise de histeria só no VHS. As comédias românticas, a música pop e o divórcio - os meninos passam mais tempo da infância na companhia de mulheres: mãe, avó, professora, “tia do SOE”, apresentadoras de TV - geraram o galã sensível, de ombros curtos e sorriso largo que forraram nossos armários em um momento ou outro: Rob Lowe, Tom Cruise e Prince nos anos oitenta; Brad Pitt, Nick Carter e Leonardo di Caprio nos noventa; Justin Timberlake, Orlando Bloom, Justin Bieber e Jonas Brothers agora.
As conseqüências são devastadoras, pois a mídia ao amplificar o “medo do macho” e promover a “sensibilização do galã” estimula uma tendência desprezível do comportamento feminino: o apreço por ser mimada, desejada e admirada sem fazer nenhum esforço.
A exaltação dessa postura é evidente ao analisarmos os personagens e as suas relações na série Crepúsculo. No filme dois galãs “sensíveis”, o vampiro vegetariano Edward e o lobisomen depilado Jacob, por um motivo incompreensível, disputam o amor da mocinha Bella. Insossa e virgem, Bella posa de destemida e cheia de atitude na primeira metade do filme: corre atrás do gatinho, abraça-o enquanto ele confessa “eu já quis matar você” e ainda despreza os colegas da escola. Pudera, Bella é uma jovem da capital, é inteligente e tem preocupações mais importantes do que participar do jornal da escola, ouvir música e ir ao baile de fim de ano; lembrar de comer sanduíche antes de ir pra casa dos vampiros é bem mais edificante. 
Contudo, a coragem some quando suas hemoglobinas começam a despertar os instintos mais primitivos dos vampiros e Bella corre para a torre de princesa e assiste impassível Edward enfrentar os vampiros “do mal” que querem seu sangue. Ok, ela não tem poderes sobre-humanos para bater de frente com os vampiros, mas dentes de alho e crucifixos são fáceis de encontrar no Wall Mart mais próximo.
O sangue e o selinho de Bella são protegidos por Edward que, frouxo como o galã típico do novo milênio, não quer desposá-la antes de assumir um compromisso seriíssimo. No entanto, Bella sente falta de ser desejada com mais ardor e ousadia - mesmo sendo tão proativa quanto um feto natimorto, pois o beijo mais quente do filme é iniciativa do atormentado Edward. Para dar uma migalha de lascividade no romance surge Jacob: um lobisomem sem pêlos, com olhar de coitado e um pouco de ousadia e que também quer protegê-la. Protegê-la do quê?! Só se for da própria nulidade.
É impossível ignorar o famoso videolog onde o crítico Maurício Saldanha defende que a protagonista é um exemplo de mulher forte e independente. Espero que seja troll ou Saldanha sofre de analfabetismo funcional pois Bella é inconseqüente, submissa e burra. Muito longe de ser considerada heroína, mais perto de ser uma vagina pouco falante. Não, Bella não me representa, Sarah Connor, Elena Fischer e Chloe Frazer são símbolos de independência que me inspiram.
E a saga continua, solidificando a exigência feminina por um ideal de comportamento masculino impossível, uma mistura sensitiva entre o canalha e o cavalheiro: um homem compreensível quando ela chora, agressivo quando ela geme, surdo quando ela grita, obediente quando ela reclama e que a ame do jeito torto que ela é.

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2 comentários:

Texto perfeito! Adorei! então era por isso que eu me apaixonava por viadinhos na época do primeiro grau! Nanda

Oi Fernanda. Desculpe a demora em responder.
Pior que na pré-adolescencia ainda estamos sob a influencia do "medo do pau". Que logo passa.
O preocupante é que a crescente desvalorização das características masculinas (barba, pelos, queixos proeminentes, objetividade) está ocasionando num boom de homens bananas e sex symbols afeminados. Que nao se limitam aos posters da Querida ou Capricho, ja estao no nosso dia a dia.

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