Cyndi Mayweather se apaixonou pelo homem errado e agora terá de lutar com todas suas forças por esse amor. Marina também sofre do mal do amor impossível e terá que superar a culpa e uma família em luto para viver esse romance.
Mayweather é uma andróide que ao se apaixonar por um humano despertou a fúria das autoridades e debates éticos sobre os direitos dos andróides; a polícia quer desativá-la e a fuga de Mayweather torna-se um libelo pela liberdade das classes oprimidas. Marina é a madrinha de casamento de sua amiga de infância, a caminho da cerimônia o avião em que estava sofre um atentado e todos são salvos por Pedro, ela e o herói do dia se apaixonam perdidamente sem saber que o destino lhes prega uma peça: Pedro é o noivo da sua amiga.
O drama de Cyndi é cantado por Janelle Mónae em seu álbum de estréia, The Archandroid, que mescla pop, funk, soundtrack futurista, rock psicodélico, jazz orquestral e canções religiosas. Antes de ser uma salada mista, é um álbum pop conceitual que dá continuidade a saga intergaláctica - alusiva ao filme Metropolis de Fritz Lang - inaugurada no EP Metropolis - Suite I (The Chase) de 2007.
A luta de Marina é autoria de Aguinaldo Silva, está em cena na nova novela das oito, Insensato Coração, e será recheada de fórmulas baratas e ensinamentos equivocados como: os pobres são quem conhecem a verdadeira felicidade, os vilões são ricos ou ambiciosos e sexualmente mais ativos, os jovens não questionam a estupidez dos mais velhos.
Archandroid e Insensato Coração partem da premissa manjada do romance impossível, porém as trajetórias se separam logo nos primeiros minutos. Janelle não perde tempo em acostumar os ouvidos do público e já abre os trabalhos em ritmo frenético e surpreendente com Dance or die e Faster que se emendam e remetem a um clima de fuga alucinada num ambiente futurista; a impressão nítida é que pegamos uma narrativa em andamento. Aguinaldo , por sua vez, patina em inconsistências ridículas como um homem seqüestrar um avião munido de um canivete de 4cm, obviedades como mocinhos bobinhos e vilões interessantes e atores que reincorporam personagens de novelas passadas. Sempre mais do mesmo.
Folhetim e música pop dividem a xepa na feira da indústria do entretenimento: formulismo utilizado a exaustão, inovações pontuais e rótulos, muitos rótulos. São obras abertas que flutuam ao bel sabor dos costumes e preconceitos da audiência.
Apadrinhada por Puffy Daddy e Outkast, Janelle segue na contramão da indústria ao não subestima o público e recorre a referências que vão do pop ao cult e climas sonoros não usuais como em Neon Valley Street : balada envolvente e sensual com naipes de metal, solos de guitarra e violinos, trilha sonora perfeita e classuda para um pernoite no motel, a canção acaba e fica o desejo de que existissem teleteransporte para ir ao cenário imaginado na canção.
Tudo ao mesmo tempo agora
Ao descobrir a fórmula da diva o pop passou a explorar a exaustão o veio Madonna: cantoras como Beyonce, Lady Gaga, Shakira, Rihanna e afins que inflamadas pelo germe do feminismo-sexista cantam todos os sinônimos possíveis do slogan Baby, uh.. baby.. você vai sofrer nas minhas mãos pois sou gostosa e desejada por todos/ até que estou afim de você mas não pense que sou fácil. E assim, meu pobre pop desvanece nas mãos de gansta rapper´s, marqueteiros medíocres e garotas de shortinhos com coreografias ensaiadas.
Nesse cenário desolador, Janelle Monae surgiu como um sopro de vida inteligente na música pop. Em uma terça-feira de maio do ano passado, ao final do programa de David Letterman, um cometa trajando smoking preto, sapatos bicolores e ostentando um penteado peculiar incendiou o público pela energia esfuziante ao apresentar seu single Tightrope – canção de ritmo frenético com ares de fuga alucinada onde estrofe, refrão, rap, bridge se sucedem sem pausa, sem respiro.
Na turnê brasileira de Amy Winehouse, enquanto a inglesa esquecia as letras, disfarçava a embriaguez e ganhava mais aplausos do público quando bebia a misteriosa xícara ou ameaçava sair do palco, Janelle roubava a cena (semelhante a performance pífia dos Strokes em Porto Alegre que cantaram pra fazer a platéia ninar após o Arcade Fire). Dona de uma afinação perfeita, Janelle abre mão de dançarinos, gestos lúbricos, playbacks, gemidos e outros artifícios manjados das divas do pop para brilhar sozinha ao percorrer o palco dançando à James Brown, sapateando à Freddy Astaire e pintando quadros à...a sua moda. Tudo ao mesmo tempo agora.
Janelle Monae lança mão de todos os ingredientes disponíveis para o sucesso de uma diva pop: estilo musical da moda (hip hop), batida e refrões marcantes, duetos, empolgação, romantismo. Como um folhetim canta a fábula do amor impossível, o que a salva da banalidade do pop é que sua narrativa navega contra ao bel sabor dos preconceitos, vícios e comodismo da audiência.
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